18/03/2009

CANARIO DA TERRA


Canário-da-terra: Beleza no canto e nas cores
Mutações em canário-da-terra (Sicalis flaveola) é assunto novo, ainda em evolução. Como essas mutações não foram padronizadas e nem

Mutação Amarelo ...............


regulamentadas, ainda perdura muita desinformação a respeito, especialmente quanto aos nomes e as descrições dos pássaros mutantes.
Como 1º Diretor Técnico de Criação de Canário-da-Terra da CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE PASSAROS NATIVOS - COBRAP estou me propondo a dar início a uma regulamentação que possa uniformizar as diversas mutações que já surgiram. Este, portanto, será um marco inicial.
Muita gente sabe que os animais evoluem para melhor se adaptar. Durante essa evolução ocorrem mudanças e alterações no DNA. Assim, pode-se definir mutação como qualquer alteração ou modificação permanente do DNA. A nós ornitófilos o que interessa são as mutações que transformam, alteram ou mudam a coloração e os desenhos originais das penas dos pássaros silvestres, já que, ocorrendo a mutação, as tonalidades e os desenhos passam a apresentar diferenciações dos seus ancestrais nativos.
Minhas vivências pessoais, com as mutações no canário-da-terra, tiveram início há mais de 35 anos atrás, quando, na década de l966/67, pela primeira vez, pude ver e admirar alguns canário-da-terra mutantes, na coleção do meu grande amigo NELSON MACHADO KAWALL. Ele possuía quase duas dezenas de canários-da-terra (Sicalis flaveola brasiliensis) mutação canela e um fêmea lutina (amarela de olhos vermelhos). No Rio de Janeiro, um outro meu amigo, MARIO VENTURA, também possuía um macho lutino.

............ Mutação Canela

Segundo informação do referido Nelson Kawall a primeira mutação a surgir em canário-da-terra foi a canela. Depois, por volta de 1975, o Nelson vendeu sua bela e rara coleção de pássaros mutantes a um outro meu amigo, o ENNIO DE ARAÚJO FLECHA, que foi Presidente da SOB - Sociedade Ornitológica Bandeirante. O Flecha, durante muitos anos, criou dezenas de mutações de vários pássaros nativos brasileiros. Posteriormente, também vi no aviário do Dr. TRAMUJAS, médico em Curitiba, outros exemplares mutantes de canário-da-terra.
Naquela ocasião, se não me falha a memória, as mutações existentes eram de pássaros canelas, os dois lutinos já referidos, os amarelos de olho preto (alguns ainda apresentando suaves marcações melânicas nas costas, asas e rabadilhas) e canários-da-terra manchados, com variados tons de amarelo e negro, os chamados arlequins, alguns que não eram verdadeiras mutações, mas pássaros que apresentavam manchas e pintas de cores diversas, resultantes de deficiências ou mudanças de hábitos alimentares.
Posteriormente, apareceram uns canários amarelos de uma cor chamada de "flor-de-milho", com poucas penas negras, originários do Ceará, que eram muito disputados por colecionadores, mas a mutação (se é que era mutação) não foi fixada. Existiam, também, na época, uns canários-da-terra (Sicalis flaveola pelzelni) com uma coloração diversificada, que vinham do Mato Grosso do Sul, chamados de cinza cor-de-palha, cuja coloração era um cinza claro amarelado. A plumagem de fundo era amarelada. Essa novidade também, segundo me consta, não foi fixada.
Daí para frente, me interessei por esses tipos de pássaros de cores diferentes das normais.
Depois, mais recentemente, surgiram as mutações ágata, as isabelinas e opalinas.
Quanto as pseudo ou verdadeiras mutações arlequins, ainda pairam dúvidas se elas são, de fato, mutações autênticas, ou não, isto é, se podem ser transmitir e ser fixadas, já que inexistem relatos fiéis de pássaros nascidos de cruzamentos arlequim X arlequim terem resultado filhos manchados iguais ou um pouco assemelhativos aos pais. Das minhas experiências, ainda não tenho uma opinião formada. Em rolinhas caldo-de-feijão esse tipo de variação cromática jamais se fixou.

Mutação Opalina ................

Como o canário-da-terra só agora, a partir da década de 1975, vem sendo criado adequadamente em regime de domesticidade (a criação doméstica começou a ser incrementada com regularidade somente após a década de 1990), existem raros e esparsos relatos de mutações nesta espécie de pássaro. Este assunto está ainda embrionário na ornitofilia brasileira. Muitos passarinheiros nem sabem que existem mutações em canário-da-terra. Até hoje, minguadas confirmações técnicas e fontes seguras das reais mutações que já apareceram podem ter confirmação de sua existência e fixação genética. A razão é simples: muitos poucos criadores abnegados puderam concentrar seus esforços neste capítulo apaixonante da história deste nosso pássaro, um dos mais estimados pelo povo brasileiro. Acredito, entretanto, que as mutações já existentes serão fixadas, o número de exemplares mutantes aumentará e diversos criadores irão partir velozmente para criar, visando obter novas mutações, como aconteceu com o canário de cor.
............ Canário da Terra


Esta carência de informação, todavia, não acontece com o Serinus canarius. Segundo consta dos manuais de canaricultura, o referido pássaro, originário das Ilhas Canárias, o popularmente conhecido canário doméstico, canário-do-reino, canário-belga, roller ou de cor, vem sendo criado pelo homem há mais de 500 anos.
Durante este longevo período, centenas de mutações de cores surgiram, foram fixadas e transmitidas ao longo dos anos. Hoje, o número de cores novas (diferentes do tipo normal silvestre) já ultrapassa quatrocentas. Este detalhe é importante, na medida em que induz os criadores a buscar o aperfeiçoamento, melhorar o que existe e chamar a atenção do grande público para a canaricultura de cor. O canário selvagem, primitivo, em face da contínua seleção e aprimoramento genético realizado pelos criadores, foi, aos poucos, sendo alterado, inclusive no seu tamanho, porte e cores originais.
Toda esta diversidade de formas e mutações de cores, com certeza, também ocorrerão com o nosso canário-da-terra. Penso que, em futuro não muito longínquo, iremos ter um canário-da-terra totalmente vermelho, um totalmente branco, um mutante pastel, um topázio e assim por diante, como acorre com o Serinus.
Nestes últimos trinta e cinco anos, as mutações que podem ser citadas e que já ocorreram em canário-da-terra são: canela, lutina, arlequim, amarela, ágata, isabel e opalina.

Crônic

De acordo com Helmut Sick a América do Sul é o continente das aves. O número de espécies residentes neste ultrapassa a ordem de dois mil seiscentos e quarenta e cinco. Se considerarmos as visitantes, chegamos a cerca de duas mil novecentas e vinte espécies (Meyer de Schauensee 1970). Nenhuma outra região do planeta possui uma diversidade como essa, sendo que esse número corresponde a quase um terço das espécies atuais. Destaca-se também a beleza desse grupo, no qual a variedade de formas e de cores


chama a atenção. Uma dentre essas muitas espécies é o Canário-da-terra-verdadeiro, Sicalis flaveola, conhecida por sua vocalização e pela cor característica do macho: amarelo vivo e alaranjado na região do píleo anterior.

Pertencente a ordem dos Passeriformes, subordem Oscines e família Emberizidae, Sicalis flaveola é conhecido como “Canário da Horta” e “Canário da Telha” em Santa Catarina, “Canário do chão” na Bahia ou de uma maneira geral “Canário-da-terra”. Pode ser encontrados da região do Maranhão até o Rio Grande do Sul, abrangendo a região do Pantanal e também as ilhas de São Paulo e Rio de Janeiro. Reaparecem ao norte da Amazônia, das Guianas à Colômbia. Essa família é oriunda do Novo Mundo, são Panamericanos, distribuídos da Groenlândia à Terra do fogo. Existem evidências fósseis desses animais do Pleistoceno (há cem mil anos atrás) e do Plioceno (há dez milhões de anos atrás), encontrados na região da Flórida. Os Emberizidae são os únicos Passeriformes americanos que colonizaram o Velho Mundo, em escala reduzida.

As excepcionais qualidades canoras dessas espécies as tornam muito disputadas por brasileiros e todas as regiões do país. A vocalização pode variar de sons muito fortes, por exemplo, em espécies como o curió, bicudo, azulão e trinca-ferros, a sons mais suaves, como o do coleirinho. Quando um macho encontra com outro da mesma espécie, passa do seu costumeiro canto territorial para um mais diverso, demonstrando sua agressividade (“canto de briga”). O macho de Sicalis flaveola possui um canto de madrugada territorial, extenso, áspero, fraseado sendo bem diferente do canto diurno. Este empoleira e começa a vocalizar no escuro e continua durante todo o crepúsculo, sem a menor interrupção.

O Canário-da-terra costuma correr o solo atrás de sementes. Ao contrário de outras espécies pertencentes ao mesmo gênero, ele pode nidificar em buracos, inclusive ocupar ninhos de outras espécies. Ele é tão plástico nesse ponto, que consegue nidificar em uma caveira de boi ou em um vão de telha em alguma casa (por isso o nome “Canário da Telha”). Aceitam caixinhas de bambu perfuradas e até podem se instalar em densas plantas epífitas. Porém sempre fazem, no espaço disponível, uma cestinha confortável.

Infelizmente, por alguns machos possuírem uma índole muito agressiva, há quem os use como “canários de briga”, uma analogia aos conhecidos “galos de briga”. Os animais são colocados em uma gaiola especialmente grande. A briga pode durar cerca de meia hora. O final acontece quando um dos machos foge ou tomba ferido.

Sicalis flaveola é uma espécie muito conhecida e bastante estudada. Entender o comportamento desses canários e a sua inteligência peculiar, tem sido de grande importância para futuros estudos comportamentais em outros animais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário